Conflito no Oriente Médio e os Efeitos no Preço da Ureia
- Ricardo Lima de Souza

- 13 de jun.
- 3 min de leitura
Nas últimas semanas, as tensões entre Israel e Irã reacendeu um alerta global: a instabilidade no Oriente Médio tem reflexos imediatos sobre o mercado de fertilizantes, em especial sobre o preço da ureia, insumo fundamental para a produção agrícola no Brasil e no mundo.
A intensificação do conflito não impacta apenas o cenário geopolítico, ela age diretamente no mercado global de fertilizantes, influenciando preços, cadeias de suprimento e custos agrícolas em várias regiões.
A ureia, derivada do gás natural, é altamente sensível às oscilações no preço da energia. Com o petróleo e o gás sendo negociados com prêmios de risco elevados, o mercado já sente os efeitos: o preço internacional da ureia apresentou alta de até 15% em algumas praças de exportação, como o Golfo Árabe. Além disso, incertezas logísticas e políticas contribuem para a redução da oferta e o aumento da volatilidade nos embarques.
Ocupação de rotas marítimas e aumento no frete
A guerra compromete rotas estratégicas no Golfo Pérsico e no Mar Vermelho, eleva os prêmios de seguro para navios, e muitos capitães evitam rotas próximas a zonas de conflito. Isso encarece fretes oriundos de portos como Dos Leste e Ásia, chegando a aumentos de 25% a 30% no custo de transporte.
Esses atrasos e onerosidade logística impactam diretamente fertilizantes como ureia, amônia, fosfatos e sulfatos, especialmente usados em regiões agrícolas críticas.
Interrupções no fornecimento de potássio
Israel é um player significativo no mercado de potássio, respondendo por cerca de 6–8% das exportações globais. Seus principais centros de produção no Negev e portos como Ashdod podem ser afetados por ataques ou boicotes—já estão em “modo de emergência”, com restrições. Mesmo sem interrupções físicas, o mercado já reage: potássio visto como mais arriscado começa a pressionar preços globalmente.
Alta no custo do gás e petróleo
Caso o conflito se estenda — sobretudo com interferências no Estreito de Ormuz — há risco de disparada nos preços do petróleo, podendo ultrapassar US$ 100/barril.
O gás natural, essencial na síntese de fertilizantes nitrogenados (como ureia e amônia), também sobe, elevando custos de produção. Com isso, os fertilizantes nitrogenados podem ter preços 10–15% mais altos no curto prazo.
Reação imediata dos agentes do mercado
Operadoras como StoneX relatam alta de 10% nos preços da ureia como consequência da tensão regional.
As ações de empresas de fertilizantes (ex.: Nutrien, CF Industries, Mosaic) já respiram valorização, com ganhos de 4–7% devido a temores sobre oferta.
Há especulações sobre hiatos entre armazéns e demanda de mercado, por receios com o abastecimento de Israel e Irã.
Segurança e estratégia em cada safra
Crises internacionais exigem respostas estratégicas — não improvisos. O agricultor que antecipa suas decisões, diversifica suas fontes e conta com parceiros confiáveis está mais preparado para proteger sua produtividade e rentabilidade.
O produtor sente no bolso — e o planejamento é a única saída
O Brasil importa cerca de 80% da ureia que consome. Isso torna o agricultor brasileiro extremamente exposto às variações externas de preço e disponibilidade. Em um momento sensível do calendário agrícola, essa volatilidade pode comprometer margens e dificultar o planejamento da safra.
Cenários possíveis
Conflito moderado, sem afetação de rotas: Alta temporária e controlada nos preços, especialmente de nitrogenados
Escalada com impacto naval: Desorganização de abastecimento global, alta sustentada no preço do gás e fertilizantes
Intervenção ampla (Ormuz): Choque global = petróleo + fertilizantes sobem fortemente, risco inflacionário
O momento exige atenção redobrada:
• Acompanhar os preços globais (potássio, ureia, amônia).
• Negociar com antecedência fornecimentos e fretes.
Embora não seja o fim das operações agrícolas, a guerra Israel–Irã deixa claro que conflitos geopolíticos interferem direto na ponta da agroindústria — das lavouras até à colheita. A chave será planejamento e resiliência.



Comentários