Tender indiano de ureia: superoferta, preços em queda e o que isso muda para o Brasil
- Ricardo Lima de Souza

- 4 de set.
- 3 min de leitura
Rumores de superoferta (5,5 mi t) e lances mais baixos (≈US$ 462–466/t CFR) no tender da NFL, na Índia, pressionam os preços globais de ureia. Entenda impactos, cenários e estratégias de compra para o mercado brasileiro.
O que aconteceu (e por que o mercado virou hoje)
Pela manhã, circularam rumores de que mais de 5,5 milhões de toneladas foram oferecidas ao novo tender da estatal indiana NFL, com preços reportados ao redor de US$ 466/t CFR — queda superior a US$ 60/t em relação ao tender anterior da IPL (≈US$ 530/t CFR). A NFL sinalizou compra-alvo de 2 milhões de toneladas. Ou seja: forte superofertaacompanhada de ajuste de preços.
Nas últimas horas, surgiram informações de lance ainda mais baixo, próximo de US$ 462,45/t CFR na costa leste, reforçando a leitura de queda. Vale lembrar que os resultados oficiais ainda não foram divulgados.
Os números por trás do leilão
Volume-alvo da NFL: 2,0 mi t (1,0 mi t para cada costa), embarque até 31/out; ofertas válidas até 10/set.
Rumores de oferta recebida: >5,5 mi t — patamar raro para um único tender.
Preço de referência anterior (IPL): ~US$ 530/t CFR; agora, mercado fala em US$ 462–466/t CFR, puxando a curva global para baixo.
O que pode estar pressionando o preço
Aumento de disponibilidade asiática: há sinais de flexibilização nas exportações chinesas, o que pode gerar maior oferta no mercado.
Sequência de compras indianas: após a rodada da IPL e de outras estatais, o mercado ficou à espera da NFL — movimento típico que redefine preços globais.
Demanda seletiva: com margens apertadas em vários destinos, produtores e traders competem mais em preço para garantir escoamento.
Implicações para o Brasil (CFR, timing e basis)
Pressão imediata sobre indicações CFR Brasil: quando a Índia “zera o jogo” do preço, os netbacks do Oriente Médio e Norte da África se ajustam, e o Brasil tende a capturar parte dessa queda nas semanas seguintes, especialmente em out–nov.
Curva futura mais leve: em julho, vimos contratos em torno de US$ 490/t CFR Brasil; com o novo patamar indiano, o viés é de afrouxamento.
Risco de reação rápida: restrições logísticas, revisões de política de exportação ou surpresas na adjudicação podem limitar a queda.
Cenários para os próximos dias
Base: NFL confirma grande parte do volume a ~US$ 462–466/t CFR → produtores aceitam netbacks menores e indicações no Atlântico cedem gradualmente.
Altista: China não participa efetivamente, algum produtor-chave sofre parada não programada ou o frete dispara → queda perde força.
Baixista: adjudicação robusta + logística fluida + mais ofertas spot no Oriente Médio → descontos adicionais em lotes de chegada para out–nov.
Estratégia de compra para o Brasil
Escalonar: dividir volumes em 2–3 janelas (curta, média e, se cabível, pós-natal).
Travar parciais: aproveitar oportunidades de queda para garantir 30–50% da necessidade da safra.
Olhar frete e navios: parte do ganho de preço pode se perder no transporte.
Revisar barter e crédito: com preços em ajuste, os coeficientes de troca podem melhorar rapidamente.
Diversificar origens: combinar ofertas do Oriente Médio, Norte da África e Mar Negro.
Monitorar diariamente: as contrapropostas da NFL ficam válidas até 10/set; manchetes podem mexer no mercado em questão de horas.
O que ficar de olho
Quem ficará com o “lowest” oficial e quantos milhões de toneladas serão efetivamente adjudicados.
A real participação (ou não) de volumes chineses.
A resposta dos produtores egípcios e do Golfo nos próximos embarques.
O tender indiano da NFL pode marcar um ponto de virada para os preços globais de ureia. Se confirmada a superoferta e o preço mais baixo, o Brasil deve sentir alívio nos custos já no curto prazo — mas a volatilidade segue alta e exige estratégia bem planejada.



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